Situado no coração do Restelo, hoje apresentamos-lhe um projeto de reconstrução e ampliação de uma habitação unifamiliar. No extremo ocidental da cidade de Lisboa, esta zona resulta do desenho urbano desenvolvido por João Faria da Costa, durante a década de 50, caracterizando-se por uma zona maioritariamente residencial, ainda que de baixa densidade.
O atelier SAMF, responsável pela intervenção, é liderado por dois arquitectos portugueses (Sara Antunes e Mário Ferreira) que tem desenvolvido vários projetos interessantes ao longo dos últimos anos. Venha connosco e descubra como se transforma uma habitação tradicional portuguesa num espaço moderno através de pequenas intervenções.
Uma vez que a casa se situa na Rua Fernão Penteado no Bairro do Restelo, a intervenção teve desde início condicionantes inerentes à imagem da envolvente construída. Sendo assim foi necessário manter a fachada principal e a cobertura em telha, focando o projeto na reorganização funcional dos espaços.
Dadas as condições do lugar, os arquitetos focaram a sua intervenção na criação de uma cave e de uma varanda, que permitiram aumentar consideravelmente a área da casa. O piso térreo foi redesenhado de forma a integrar todas as funções públicas da casa em forma de planta aberta, à excessão de uma casa de banho de apoio que apresenta, naturalmente, porta. No piso superior encontram-se as divisões que pressupõem um maior grau de intimidade – quatro quartos e duas casas de banho. A cave integra uma garagem, uma lavandaria, espaços multifuncionais e ainda uma casa de banho de apoio.
Embora os arquitectos optassem por manter as características fundamentais da casa, houve uma tentativa de depuração no redesenho de alguns elementos que permitiu uma transição mais harmoniosa para a nova ampliação.
Enquanto a iluminação nos dois pisos superiores foi garantida pelas aberturas das janelas originais que permaneceram inalteradas, na cave foi criado um pátio de apoio aos novos espaços que além de garantir a entrada de luz natural, conforma um espaço de convívio e descontração.
Nos interiores foi procurada uma autenticidade na crueza dos materiais utilizados, apoiada no contraste estabelecido entre o cimento das paredes e pavimentos com a madeira dos móveis e outros detalhes construtivos. Enquanto o branco moderniza os espaços numa linguagem minimalista, a madeira aquece as divisões com uma atmosfera acolhedora. Muitas vezes é na simplicidade da escolha de matérias que se evidencia a beleza arquitectónica dos espaços.
O protagonista da cozinha é sem dúvida a luz. Toda a escolha de materiais foi desenvolvida de forma a complementar a sensação fantástica de iluminação garantida pelo projeto de arquitectura. Sendo assim, optou-se por uma mistura entre materiais naturais e sintéticos – enquanto a bancada central em forma de ilha é constituída por mármore muito claro, os móveis e bancadas junto à janela foram concebidos em branco e verde menta.
Surpreendentemente, a casa de banho é um dos ex libris desta habitação. Com a utilização de um único material para pavimentos e paredes foi possível criar um espaço de leitura clara e muito elegante. A presença do vidro e da entrada de luz permitem quebrar o aspecto mais tradicional dos azulejos escolhidos.
Tal como no desenho das escadas, a maioria dos detalhes construtivos foi desenhado ao pormenor contribuindo para a sofisticação global da obra. É realmente incrível a forma como as condicionantes impostas pelo lugar e pelo edifício foram resolvidas de forma a criar um conjunto com esta clareza. Numa intervenção quase imperceptível, foi possível transformar e ampliar a casa conferindo-lhe novas valências e qualidades anteriormente inexistentes.